É preciso @parecer na sociedade do espetáculo midiático

Zero
18 min readOct 30, 2020

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SÉRIE — Eu virtual: distante em corpo, conectado em rede | parte 2

Brasil tem quase um milhão de influenciadores digitais em busca de sucesso e monetização de seus conteúdos e exposição de suas ‘vidas privadas’

Reportagem por Maria Clara Flores

Da esquerda para a direita: Eduarda Parada (foto: Iago Azevedo), Issaaf Karhawi (foto: arquivo pessoal), Ane Pastorelli (foto: Caio Ciuccio), Guilherme Bettanin (foto: arquivo pessoal), Luiza Andrade (foto: arquivo pessoal).

“Posto”, logo existo: te parece familiar? Se pensar é existir, tal como a máxima de Descartes, hoje, postar nas redes sociais tornou-se sinônimo de existência. Se seus seguidores não sabem da sua última viagem, de um jantar elaborado que preparou ou das estripulices do seu gato, isso de fato existiu? Numa sociedade de autopromoção, em que as relações sociais são mediadas por imagens, é preciso fazer com que os outros vejam. A pandemia de covid-19 veio acentuar as características desse regime de visibilidade que sustenta e permite a ascensão dos influenciadores digitais — sujeitos que trabalham com a produção de conteúdo nas redes e com a superexposição do “eu” no ambiente digital.

Na contemporaneidade, essas figuras seriam a “grande narrativa de sucesso, alcançando espaços que todos nós gostaríamos de alcançar uma vez que estamos todos inscritos nessa mesma lógica”, explica Issaaf Karhawi, pesquisadora em Comunicação Digital (COM+) na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Tamanho é esse sucesso que somente entrevistar uma influenciadora digital com mais de 100 mil seguidores no Instagram custaria 600 reais — ao menos, foi com essa proposta que a assessoria de uma blogueira retornou a uma solicitação de entrevista do Zero.

Mas se engana quem pensa que os digital influencers são unicamente figuras como ela, que reúnem uma audiência dessa proporção, ou como Whindersson Nunes, acompanhado por mais de 40 milhões de pessoas no Instagram e considerado o influenciador mais lembrado pelos internautas no ano passado, conforme levantamento do Instituto QualiBest em parceria com a Spark.

Um influencer digital pode ter até menos de 10 mil seguidores, sendo definido pelo mercado como nanoinfluenciador; entre 10 mil e 100 mil, caracterizado como microinfluenciador; entre 100 mil e um milhão, denominado macroinfluenciador; e a partir de um milhão, sendo então categorizado como megainfluenciador.

Issaaf Karhawi, pesquisadora em Comunicação Digital (COM+) na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Foto: arquivo pessoal.

A proporção da audiência não é somente o que distingue um influenciador digital de um usuário comum das redes sociais. Issaf investiga desde 2014 no grupo de pesquisa COM+ (ECA-USP) os processos de profissionalização dos influenciadores digitais e destaca que esses profissionais se diferenciam por produzirem conteúdos temáticos, com frequência e credibilidade, passando a ser vistos com uma marca autônoma por sua audiência. Nesse processo, não apenas fecham parcerias e negociam posts pagos, mas monetizam sua própria imagem. Além disso, mais duas características distinguem essas figuras dos internautas comuns: a construção de reputação por meio da legitimação do público e a motivação que guia a produção de conteúdo. Conforme Issaaf, “é a motivação que vai definir quem é influenciador e quem não é”.

Mesmo que não seja tarefa simples definir com exatidão quem são essas figuras, a SamyRoad, plataforma de marketing de influência e criação de conteúdo, já mapeou no Brasil ao menos 920 mil influenciadores com mais de cinco mil seguidores. E o mercado de marketing de influência se mostra promissor: hoje, são promovidas até mesmo premiações — tal como Oscars da Influência Digital –, que identificam os criadores de conteúdo mais relevantes de cada nicho por meio de métricas de engajamento nas redes sociais e voto popular. Entre as 21 categorias do Prêmio Influenciadores, realizado pelo Centro de Estudos da Comunicação (Cecom) há cinco anos, até “pets” têm uma específica.

Profissionalização dos influencers

No mercado de influência digital, há espaço — e necessidade, conforme coloca a profissional de marketing Ane Pastorelli –, inclusive para o surgimento de cursos a quem deseja se tornar um digital influencer ou então gerenciar sua carreira nas redes sociais. “Hoje, a gente encontra muitos profissionais despreparados porque não entendem bem do mercado, não sabem manusear suas redes sociais direito, não sabem produzir conteúdo efetivo. Esses cursos vieram como uma orientação para que os influenciadores levem isso como uma profissão e não como um hobbie”, considera Ane, que ministra o curso para influenciadores da assessoria especializada em marketing de influência. Com sede em São Paulo, a agência trabalha conectando influenciadores às marcas.

Ane Pastorelli, profissional de marketing e mentora de curso para influenciadores. Foto: Caio Ciuccio.

Durante sua trajetória na área, Ane relata que se deparou com influenciadores digitais “muito crus para o marketing digital”, e enxergou aí uma oportunidade de treinar pessoas com interesse de fazer disso uma profissão. Criou o curso, aliás, “justamente antes de aparecerem tantos na área”, comenta, a partir de uma metodologia própria que desenvolveu com base na observação de práticas de sucesso de clientes das agências de marketing digital.

Nas videoaulas e mentorias do curso, os alunos aprendem aspectos relacionados a contrato, equipamentos necessários para a produção de conteúdo, engajamento, abordagem do cliente e o que entregar como serviço — “é uma minifaculdade da profissão”, resume Ane. Em cerca de oito horas, é possível concluir o curso, que conta hoje com mais de 20 alunos formados.

Uma das empresas pioneiras de marketing de influência também especializada em conectar influenciadores e criadores de conteúdo às marcas, elaborou o curso Profissão Influenciador “com o objetivo de passar uma base sólida sobre como funciona o trabalho de um criador de conteúdo profissional”, explica Gabriela Bacelar, relações públicas e responsável pela empresa no Paraná. Durante o curso, conta que são passadas informações sobre o mercado do marketing de influência, como identificar qual tipo de influenciador o aluno é, como interpretar um briefing do cliente, entre outros tópicos. Ao todo, o curso possui quatro módulos divididos em 13 aulas e mais de 40 mil alunos inscritos, indica Gabriela. Ainda, a empresa tem também uma comunidade, o #ClubeDaInfluência, que se propõe a funcionar como um espaço colaborativo de criação de conteúdo, formando uma rede de troca de conhecimentos entre a própria empresa, os criadores de conteúdo e as marcas. Uma maneira de influenciar e fidelizar seu público para além dos cursos.

Compreender o processo de profissionalização das práticas dos influenciadores digitais na internet foi o objetivo de uma pesquisa desenvolvida por Issaaf Karhawi. Acompanhando a trajetória de mais de 50 blogueiras de moda, a pesquisadora da USP pôde identificar quatro etapas profissionais: vanguarda, legitimação, institucionalização e profissionalização. A etapa de vanguarda refere-se tanto às blogueiras vanguardistas, que saltaram dos antigos blogs de moda para se tornar influenciadoras nas redes sociais, quanto às blogueiras anônimas que surgem todos os dias, recém-chegadas nessa prática. Na etapa de legitimação, as digital influencers já construíram reconhecimento e credibilidade junto ao público e passam a transportar essa legitimação da audiência para outros campos, como a mídia tradicional relações com marcas.

A etapa de institucionalização é o primeiro movimento para a profissionalização, explica Issaaf. “Institucionalizar práticas tem a ver com definir rotinas produtivas, rotinas de trabalho, então aquilo que até então poderia ser só um hobbie passa a ser de fato algo que tem motivações extrínsecas, exteriores, que provavelmente vai passar por um atravessamento marcário, um atravessamento financeiro”. A profissionalização ocorre quando essas influenciadoras conseguem viver integralmente da sua atuação, desdobrando a prática do digital também para outras esferas e criando suas próprias marcas, por exemplo — esse é o momento em que Issaaf constatou que há uma relação diferente do mercado com as produtoras de conteúdo.

O surgimento desse perfil profissional de criador de conteúdo atravessado pela visibilidade é algo sobre o qual não há retorno, considera a pesquisadora: “de fato, veio para ficar”. Por esse motivo, conclui que é preciso “cada vez mais exigir que se reconheça essa atividade, e que se exija também sua profissionalização e institucionalização”. Mesmo porque, cada dia mais, cresce a influência dessa prática na estrutura social.

Sociedade, mídia e espetáculo

Cerca de um a cada dois brasileiros já segue algum influenciador digital nas redes sociais (52%), e quando a faixa etária é de 16 e 24 anos, esse índice sobe para três em cada quatro internautas (75%), aponta o levantamento “O Brasil e os influenciadores digitais”, elaborado no último ano pela empresa de pesquisa de mercado Ibope Inteligência. Entre as razões que motivam os entrevistados a acompanhar essas figuras nas redes sociais, destacam-se o fato de encontrarem ali conteúdo com informação relevante (74%), identificarem-se com os pensamentos e ideias do influenciador (54%) e poder interagir com ele (29%).

Fazer parte do universo dos influenciadores digitais — mesmo que como coadjuvante, seguindo perfis nas redes sociais –, significa acompanhar os tempos em que a visibilidade midiática é imperativa. Nesta sociedade de autopromoção, mesmo a intimidade passa a ser espetáculo sendo um dos vetores da visibilidade — o olhar espetacular sobre o sujeito observa como este se constrói para ser visto. “Quando a gente pensa em sociedade do espetáculo, talvez imaginemos automaticamente fogos de artifício, uma grande festa, mas na verdade refere-se a relações sociais mediadas por imagens”, comenta Issaaf. Em seu artigo “Espetacularização do Eu e #selfies: um ensaio sobre visibilidade midiática”, a pesquisadora explica que o termo “sociedade do espetáculo”, cunhado por Guy Debord em seu manifesto de 1967, diz respeito à época de eclosão dos meios de comunicação em massa, período em que o indivíduo comum passa a ter mais visibilidade do que em qualquer outro momento histórico.

Debord conceitua que reina nessa sociedade a imensa acumulação de espetáculos, pois tudo o que era vivido diretamente tornou-se representação na mídia. Com as relações sociais sendo mediadas por imagens, o natural e o autêntico passam a ser ilusões. Num primeiro momento, houve a degradação do “ser” pelo “ter”, e na sociedade do espetáculo, que deriva da economia de acúmulos e pseudonecessidade, o escritor francês afirma que há um deslizamento do “ter” para o “parecer”. O autor expressa esse argumento na ideia de que o espetáculo se apresentaria como uma enorme positividade — seria visto e apareceria tudo aquilo que fosse bom.

Mesmo que os conceitos delineados por Debord tenham sofrido alterações ao longo do tempo, Issaaf destaca que estes continuam em voga.

“‘Parecer’ tem a ver com essa relação que é mediada por imagens, e qual é o melhor ambiente para a proliferação de imagens se não as redes sociais? Especialmente o Instagram, que é uma rede majoritariamente imagética. Então, a ideia do espetáculo se potencializa no cenário que a gente vive hoje”, comenta a pesquisadora. No contexto contemporâneo, destaca que existem duas maneiras de exibição: uma inerente ao social e outra facilitada pelos meios.

A pandemia trouxe consigo uma série de restrições à interação social, o que não poderia deixar de intensificar este tipo de exibição facilitada pelos meios — o espetáculo midiático. Nessa configuração, Issaaf ressalta que não ganhará destaque o sujeito capaz de se autovigiar ou autorregular, mas quem conseguir construir sua intimidade e expô-la com sucesso. As blogueiras, creators, digital influencers, criadores de conteúdo — qualquer que seja a nomenclatura que se deseje usar –, são símbolos de bom uso da lógica de visibilidade contemporânea.

Para Issaaf, o discurso circulante de que “somos todas blogueirinhas” parece revelar algo já bastante consolidado em nossa sociedade: essas figuras instituíram práticas “de como estar na rede e fazer isso de forma bem sucedida”.

A fim de desvendar algumas dessas práticas, o Zero conversou com três influenciadores digitais sobre seus trabalhos com as redes sociais e a relação entre produção de conteúdo e visibilidade.

@eduardaparada: “Gosto de trazer energia para a galera”

Eduarda Parada, estudante e influenciadora digital. Foto: Iago Azevedo.

Desde pequenininha, Eduarda Parada — hoje com 20 anos –, conta que gosta dos holofotes. “Não é uma coisa que eu me importe, sabe? Sempre gostei de ‘me’ aparecer, no grupo das amigas eu sempre fui a mais para frente”, e todo esse entusiasmo a baiana canaliza agora para seu perfil no Instagram. Ali, passou a produzir conteúdo recentemente, por conta das medidas de distanciamento social adotadas como forma de enfrentamento à pandemia.

“Quem me conhece sabe que eu sou bastante agitada, tenho energia, então comecei a interagir com o povo do meu Instagram. Quando eu vi que estava dando certo, comecei a investir nisso”.

Além de “dicas de beleza para quem não entende e cronograma capilar”, como está descrito em sua biografia no Instagram, Eduarda produz conteúdos sobre bem-estar e alimentação. Essa é a parte que considera mais desafiadora nas redes: editar todo o material, ter boas ideias e planejar o que será postado — mas é também o resultado desse trabalho que a faz perseverar. “Quando você vê alguma pessoa te elogiando ou quando vão surgindo várias parcerias, dá muita alegria, muita felicidade. Isso é bastante gratificante para a gente”. Nas redes, conta que seus principais objetivos são “ajudar e influenciar bastante gente, estar ali para o povo, para o que precisarem de mim”.

Sua parte preferida de se dedicar à produção de conteúdo é interagir com a audiência e “a questão da pessoa vir te pedir dicas ou te ver na rua e falar com você”. De início, Eduarda conta que era mais raro seus seguidores interagirem com ela. A influenciadora persistiu e, hoje, já tem até destaque em seu perfil no Instagram com o título “vocês”, espaço em que reúne feedbacks de sua audiência. Das redes, só retira coisas positivas: diz nunca ter recebido críticas abertas, muito pelo contrário, sente-se muito apoiada por seus amigos e familiares. “Isso é o que nos motiva, né, o apoio, algo muito importante para a gente que está começando nesse mundo”, considera.

Ela, que se prepara para o Enem e vestibulares com a intenção de passar em Odontologia, costuma mostrar todo seu dia a dia nas redes sociais, inclusive o momento dos estudos, que geralmente é à tarde ou pela manhã. Às vezes, precisa ir às lojas com as quais tem parceria nesses períodos, mas procura se organizar para dar conta de tudo. Quando for aprovada, receia que seja mais difícil conciliar o Instagram com os estudos, mas não desanima e pretende continuar o trabalho, dando dicas e se mostrando ao público de forma verdadeira.

“O que eu sou nas redes sociais eu sou pessoalmente, e gosto de trazer energia para a galera”.

@guibettanin: “A lição aqui é seguir forte no que a gente acredita”

Guilherme Bettanin, estudante de Administração Empresarial e influenciador digital. Foto: arquivo pessoal.

Na descrição de seu perfil no Instagram, Guilherme Bettanin antecipa: “Posto conteúdo sobre #empreendedorismo e #modamasculina”. Proprietário da uma marca de roupa e produtor de conteúdo há cerca de dois anos no Instagram, comenta que incentivar o desenvolvimento pessoal e profissional da audiência que reúne em seu perfil é o que motiva cada reels, igtv, story ou foto em seu feed.

“Trabalhar com o Instagram significa, para mim, influenciar outras pessoas, incentivá-las e me posicionar em relação ao que eu acho importante e ao que eu acho que pode trazer uma mudança na vida dessas pessoas que me acompanham”. Isso Guilherme só considera que seja possível ao transmitir verdade nas redes: “Existe muito empreendedorismo de palco, e a minha principal meta é passar um trabalho verdadeiro”.

Seu trabalho com as redes sociais é anterior à criação da sua marca de roupa, em 2018. No início, produzia conteúdos voltados a sua carreira como modelo profissional, mas, ao ingressar no curso de Nutrição, passou a ter como foco assuntos relacionadas a estilo de vida. Atualmente estudante de Administração Empresarial na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), comenta que a mudança de temática para empreendedorismo e moda masculina, temas aos quais se dedica hoje, fez com que perdesse seguidores — o que não considera ruim. “Não adianta ter um monte de seguidor que não é a audiência que eu quero, o número de seguidores não importa se você não tem a audiência correta. Ao mesmo tempo, eu tenho outros que são dessa audiência”.

Em seus dois perfis nas redes — pessoal e da marca, que juntos somam mais de 43 mil seguidores –, busca construir uma audiência interessada nos produtos que comercializa. Com essa finalidade, planeja semanalmente todo o conteúdo que irá postar: nas segundas de manhã, cria as postagens de feed da marca e de seu Instagram pessoal; às terças, produz os vídeos — geralmente Igtv para o pessoal e reels para o outro –; e quarta-feira é quando costuma postar o conteúdo. Nessa rotina acelerada em que, além de prestar consultoria para empresas na área de gestão e estudar, gerencia sozinho sua própria marca e todo o conteúdo de dois perfis nas redes, Guilherme destaca que é importante “ter muita organização, muito planejamento e executar”. Até mesmo para interagir com seus seguidores é necessário empenho, por conta da rotina cheia. “Estou me esforçando bastante para responder perguntas específicas, quando alguém entra em contato comigo e tem a intenção de aprender e pedir opinião sobre algo que está fazendo, dou prioridade para isso”, conta o influenciador.

Guilherme comenta que o resultado de toda essa dedicação não pode ser medido somente pelo número de curtidas, comentários ou compartilhamentos, ainda que seja fundamental acompanhar as métricas de cada postagem. “Muitas vezes você fez um conteúdo legal, você se dedicou a isso, e ele não dá em nada. E não é porque a galera não gostou, é porque simplesmente o Instagram não mostrou seu conteúdo”. Além do mais, não é sempre que se está bem para produzir conteúdo — e isso a pandemia parece ter reafirmado como nunca. “A pandemia me fez postar com mais frequência em alguns momentos e com menos em outros. Acho que as pessoas devem ter percebido como o emocional da gente mudou ao longo desses seis, sete meses, e eu oscilei bastante, na verdade”, relata.

Hoje em seus 20 anos, expor a todos sua figura é algo confortável, “não me importo”, ele diz — mas nem sempre foi assim. Quando mais novo, Guilherme teve de lidar com a timidez. “Eu sempre fui muito envergonhado, me importava com o que as pessoas pensavam e mudei muito nos últimos três anos”. Com esforço pessoal e acompanhamento psicológico, conta que conseguiu se tornar alguém emocionalmente mais forte. Essa postura lhe permite lidar de forma melhor com as críticas nas redes sociais, situação que já lhe ocorreu com frequência.

“Admito que, às vezes, afeta, mas isso não machuca porque você sabe que a pessoa está falando mais sobre ela mesma do que sobre você. Acho que a lição aqui é seguir forte no que a gente acredita e fazer o que a gente gosta. Uma hora as pessoas que valorizam isso vão te encontrar e vão continuar contigo. E você vai crescer”.

@luizaandrad_: “Não vou perder nada, então vou tentar!”

Luiza Andrade, estudante e influenciadora digital. Foto: arquivo pessoal.

“Nossa, você não estuda”, “Luiza, o Enem tá chegando”, “olha lá, só fica nesse Instagram o dia inteiro”. Críticas como essas se tornaram mais frequentes quando a capixaba Luiza Andrade, de 18 anos, motivada pelo ócio da quarentena e pelo incentivo de uma prima, passou a produzir conteúdo nas redes sociais. “A pandemia me influenciou demais a entrar, porque eu não estava fazendo entre aspas nada, né, e aí uma prima falou ‘Lu, porque você não entra nessa? É a sua cara, você vai conseguir muita coisa’, e aí eu pensei ‘Ah, não vou perder nada, então vou tentar!’”. E tentou. De lá para cá, já conquistou quase mil seguidores novos e fechou parcerias com uma clínica de estética, lojas, restaurantes e deslanchou sua carreira como modelo. A próxima meta é alcançar seus primeiros 10 mil seguidores e, junto deles, o tão aguardado “arrasta para cima” do Instagram, ferramenta disponível aos usuários que já ultrapassaram esse número de audiência.

Na redes sociais, o que mais produz são conteúdos relacionados a alimentação, bem-estar e beleza. Gosta desse trabalho de influenciar pessoas e sonha “poder levar um pouco mais de conhecimento das áreas que domino para as pessoas, e que elas me reconheçam por isso”. Luiza diz valorizar muito quando seus seguidores interagem e comentam que se sentiram influenciados por seu conteúdo a consumir algum produto ou serviço.

É essa relação uma de suas partes preferidas no trabalho com as redes. “Eu sou uma pessoa muito comunicativa, gosto de conversar. Gente, eu amo quando meus seguidores interagem comigo. Nós que somos blogueiras, digital influencers, criadores de conteúdo digital, enfim, a gente gosta disso”.

Mesmo apaixonada pelo que faz nas redes sociais, conta que se preocupa em não expor sua vida pessoal 24 horas. Considera que é preciso equilíbrio e passar um tempo offline com a família, amigos e namorado. “Eu não posto o dia inteiro, não sou esse tipo de digital influencer. Tem aquelas que gostam de falar da rotina, de cada passo que dão no dia — não julgo, mas eu não faço. Eu falo o que eu acho mais relevante do meu dia”. Além disso, Luiza precisa dedicar tempo também aos estudos. Tendo concluído o ensino médio no último ano, faz pré-vestibular online para passar no Enem. Quanto ao curso, já sabe que será na área de Ciências Biológicas, mas ainda está entre Medicina, Farmácia, Nutrição e Biomedicina.

Parece ter colocado um pouco de lado a Medicina, no entanto. “Não sou aquela pessoa para ficar o tempo todo sentada na cadeira 15 horas por dia estudando para o vestibular, é impossível. Sou hiperativa, eu quero sair, conversar com as pessoas, trabalhar”, o que se mostra essencial agora que precisa estar mais conectada às redes sociais e atenta às mensagens dos seguidores e propostas de parcerias. Luiza está ainda aprendendo a lidar com os estudos junto a essa rotina do Instagram e trabalho como modelo, mas admite que acaba “deixando de lado um pouco os estudos, uma coisa que também é importante e que preciso conciliar melhor”.

Não hesita ao afirmar, porém, que seu trabalho como influencer digital é uma de suas prioridades — e que nem de longe é fútil, como alguns que criticam só por criticar podem presumir.

Dúvidas? O Zero montou um guia de leitura para te ajudar a desvendar o significado de alguns termos!

  • Briefing: É um tipo de documento bastante utilizado por profissionais da área de Marketing que contém será um resumo do que é necessário para a realização de determinado projeto ou tarefa — geralmente, para um cliente. Traduzindo para o português, o termo significa “instruções”, e de fato é como um manual de instruções para direcionar e guiar a equipe.
  • Mentoria: Envolve um profissional (mentor) com experiência e conhecimento em uma área específica que irá apoiar, guiar e aconselhar um indivíduo que deseja crescer profissionalmente (mentorado). A experiência estimula o processo de desenvolvimento na carreira e em que o mentor se coloca à disposição para encontrar soluções com o mentorado.
  • Monetizar: Significa rentabilizar e tornar lucrativo algum bem, serviço ou prática. Na internet, o termo aparece no sentido de tornar rentáveis sites, blogs ou perfis nas redes sociais por meio da visualização de publicidade ou venda de produtos.

Descomplicando o Instagramês

  • Feed: Principal espaço de um perfil nas redes sociais, é uma página inicial que reúne fotos e vídeos produzidos pelo usuário de forma permanente ou até que este remova o conteúdo. Traduzido para o português, o termo significa “alimentar”.
  • Igtv: Sigla de Instagram TV, é uma funcionalidade da plataforma que permite ao usuário o compartilhamento de vídeos de até uma hora, tempo superior aos 15 segundos dos stories e 60 segundos máximos do feed.
  • Posts: É todo o conteúdo publicado, seja imagem, vídeo, texto, áudio ou todos esses formatos juntos. Refere-se ao conteúdo publicado no feed do usuário, mas “postar” também pode significar adicionar conteúdo aos stories, Igtv e reels, por exemplo.
  • Reels: Função do Instagram que permite gravar e editar vídeos de até 15 segundos com vários clipes, efeitos de áudio e ferramentas disponibilizadas pela plataforma para concorrer com o fenômeno do Tik Tok. Outro diferencial do reels é que permite também postar o vídeo diretamente no feed. Traduzido para o português, o termo significa “bobinas” ou “carretéis”.
  • Stories: Ferramenta que permite publicar vídeos ou fotos de até 15 segundos, o diferencial do Instagram Stories é que o conteúdo fica disponível para ser visualizado por no máximo 24 horas. Essas postagens também podem ser adicionadas a destaques temáticos no feed para que possam ser visualizados por todos os visitantes do perfil. Traduzido para o português, o termo significa “histórias”.

Quem foi?

  • Guy Debord

Nascido em 1931, o escritor francês, cineasta e teórico marxista, Guy Debord, participou da fundação e manutenção da Internacional Situacionista — grupo dedicado à crítica da sociedade de consumo, cultura mercantilizada e sociedade do espetáculo, conceito desenvolvido pelo autor que dá nome a sua mais célebre obra. Em “A Sociedade do Espetáculo”, livro publicado em 1967, utilizando-se de referências como Mikhail Bakunin, Sigmund Freud e Karl Marx, Debord tece críticas à sociedade contemporânea, ao espetáculo no ocidente capitalista e no bloco socialista.

Seus textos influenciaram as manifestações de maio de 68. À época, na França comandada pelo general Charles De Gaulle, a contracultura, a libertação sexual, a luta pela igualdade de direitos civis chocava-se com as gerações anteriores. Foi então que teve início uma onda de protestos por parte dos estudantes franceses que demandavam, principalmente, reformas no setor educacional. Aderida também por trabalhadores, a greve geral teve participação de cerca de 9 milhões de pessoas, tornando-se a maior de toda a Europa.

  • René Descartes

Por vezes descrito como “o fundador da filosofia moderna” e o “pai da matemática moderna”, o físico, filósofo e matemático René Descartes foi o criador do racionalismo cartesiano. Conforme essa corrente filosófica, os indivíduos não poderiam alcançar a verdade pura através de seus sentidos, uma vez que esta residiria nas abstrações e na consciência, onde habitam as ideias inatas. Assim, é comumente considerado o primeiro pensador a enfatizar o uso da razão para desenvolver as ciências naturais. Nascido na França, em 1596, notabilizou-se por sugerir a fusão da álgebra com a geometria, o que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas do plano cartesiano, batizado em sua homenagem.

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