DeBBBates: preconceito regional pode afetar a saúde mental

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13 min readMay 4, 2021

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Nordestinos relatam situações de discriminação semelhantes às passadas por Juliette Freire no Big Brother Brasil 21

Reportagem por Leon Ferrari

Arte gráfica por Leon Ferrari

Finalista da 21a edição do Big Brother Brasil, a advogada e maquiadora Juliette Freire não teve um confinamento tranquilo. Para além da distância da família e de qualquer comunicação externa, durante as primeiras semanas, a paraibana não se sentia escutada e acabou isolada. “Eu senti na minha pele as pessoas ironizando na minha cara, debochando, achando que eu estava mentindo, mangando, tirando onda do meu sotaque, me imitando”, desabafou aos demais participantes. Do outro lado da tela, nordestinos em todas as partes do Brasil identificavam-se com o sofrimento da paraibana e denunciavam discriminações vividas ao longo da vida.

“Eu me identifico muito com a Juliette, porque ela queria se expressar, mas só a forma dela abrir a boca já causava uma estranheza”, afirma Wilka Araújo, nutricionista natural de Garanhuns, agreste pernambucano. Juliana Freire, paraibana de João Pessoa, e doutoranda em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sente que os ataques sofridos pela sister também foram contra ela. “Quando vejo alguém falando da minha cultura, eu sinto como se fosse uma coisa diretamente para mim”, explica.

Na internet, principalmente no Twitter, internautas questionavam se Juliette estaria sendo vítima de xenofobia. Mestre em Ciência das Religiões e doutor em Psicologia Clínica, Ramon Fonseca acredita que esse não seja o termo correto. “Xenofobia é uma aversão àquilo que é estrangeiro, ao que é de fora”, explica. Para ele, trata-se de uma questão de preconceito regional, em que, ao reconhecer seu privilégio, um indivíduo menospreza o outro por conta da região do país da qual é proveniente.

Ramon explica que situações como essa ferem a autoestima de quem as sofre, pois “com a autoestima abalada, eu posso passar a desinvestir do meu lado social, isso me traz um isolamento”. Tudo isso pode levar a transtornos ansiosos e de humor, já que “a repercussão que se teve foi porque ela estava em uma mídia nacional. Quantas histórias de preconceitos nossas, de nordestinos, são ignoradas?”, destaca o psicólogo ao atentar para um problema nacional.

Tudo começa nos sotaques

“Independente do lugar em que estou, sempre fui muito de falar. Mas, durante a minha infância, principalmente, eu me calei diversas vezes, quiçá o tempo inteiro”, confessa Wilka. Quando fala isso, a nutricionista fala de um preconceito vivido dentro do próprio Nordeste — afinal, em uma região de mais de um milhão e meio quilômetros quadrados e composta por nove estados, há uma infinidade de sotaques e modos de falar. A mãe dela cresceu em um ambiente rural, logo, ela cresceu ouvindo e falando um linguajar característico da localidade. Já na escola, a pequena Wilka sentiu na pele as discriminações transvestidas de piadas. “Eu evitava chamar o professor ou fazer algum comentário durante a aula, para minha voz não ser notada, ou o meu sotaque”.

Na faculdade, o temor em falar e a discriminação a seguiram. “Ah, tu fala igual ao [filme] Auto da Compadecida!”, “Tu não és daqui!” ou o som de risadas eram frequentemente escutados por ela. Quando mudou-se para Recife, capital do estado, para fazer mestrado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), as coisas começaram a mudar. Wilka começou a perder as inseguranças. “Eu comecei a ressignificar, a entender que isso [o sotaque] me representa. Isso tem a ver com minha ancestralidade, desse lugar de onde eu vim, da minha família”. Hoje, orgulha-se em sustentar seu jeito de falar e de vir do interior.

Milena*, professora universitária, também sente esse orgulho. No entanto, muitas vezes, precisa mudar a forma de falar para ser compreendida em uma cidade de Minas Gerais, onde vive com a filha há mais de três anos. “Você sente que não é acolhido por conta do sotaque. Algo que ‘poda’ sua fala incomoda lá no íntimo”, confessa. Logo quando mudou-se, uma das primeiras preocupações foi com a educação da filha, que, hoje, tem 15 anos. Ao visitar os colégios da cidade mineira, fez uma pergunta que gerou estranhamento: “Como funciona o fardamento?”. Em vez de explicar que, em Minas, usa-se, comumente, a palavra uniforme, a atendente chamou outras três mulheres e começou a rir dela. Sentiu-se ofendida e não matriculou a filha naquela escola. O psicólogo Ramon Fonseca alerta que ter de rejeitar suas raízes e, de certa maneira, criar uma nova identidade, pode gerar sofrimento.

Isso não significa que a filha não passou por situações de preconceito regional no outro colégio escolhido, pois “diversas vezes ela chega aqui em casa revoltada”, conta Milena. Em geral, isso acontece quando a menina usa uma gíria regional, como “oxente”, e os colegas pedem insistentemente para que ela repita o termo. Beatriz Veloso, natural de Olinda, em Pernambuco, e doutoranda da Universidade de São Paulo (USP), já está acostumada com situações como essa — vindas até mesmo de pessoas próximas a ela. É comum que, quando usa a expressão ‘tu visse’, ouvir um coro de ‘tu visses’ logo em seguida. “Vou fazer o quê? Vou brigar com todo mundo?”, questiona a biomédica.

O psicólogo Ramon explica que isso, na verdade, é uma espécie de preconceito simulado, velado. Uma discriminação que vem vestida de carinho, com adjetivos no diminutivo: bonitinho, fofinho, engraçadinho. “Estou colocando a pessoa numa situação inferior. É lindo, mas vai ficar preso numa jaula, porque é um bicho”, destaca. Para ele, essas são atitudes infantis, afinal, uma criança não consegue entender a diferença, fazendo com que, “infelizmente, esse comportamento permanece sendo reproduzido por muitos adultos”.

Razões de um incômodo

“Na mídia, o que nós escutamos constantemente é o sotaque do sudeste. E o sotaque do Brasil vai ser o que passa no telejornal em nível nacional”, afirma Ramon quando questionado sobre o porquê desse preconceito com os jeitos de falar dos nordestinos. Essa falsa unicidade, assumindo os sotaques paulistano ou carioca como padrão, pretende afirmar a existência de uma única língua portuguesa falada no Brasil. Esse é um dos pilares que sustentam o preconceito linguístico em nosso país, conforme o linguista Marcos Bagno, no livro Preconceito linguístico: o que é, como se faz. Para Marcos, a discriminação relacionada à maneira de falar é também social. “Se o Nordeste é ‘atrasado’, ‘pobre’, ‘subdesenvolvido’ ou (na melhor das hipóteses) ‘pitoresco’, então, ‘naturalmente’, as pessoas que lá nasceram e a língua que elas falam também devem ser consideradas assim…”, critica. Entretanto, o mesmo não acontece com o Sul de sotaques gaúchos, catarinenses ou paranaenses.

O psicólogo Ramon reforça, por sua vez, que, quando há personagens nordestinos em novelas, eles só mantêm o sotaque quando os atores interpretam alguém de uma profissão com menor remuneração ou considerada de baixo status social. Isso transmite desvalor às pessoas oriundas do Nordeste. Marcos , é da mesma opinião: acredita ser um claro desrespeito aos direitos humanos a forma de representação dos nordestinos nas telenovelas. Na televisão, “todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do espectador”, escreveu em sua obra sobre preconceito linguístico, ao mostrar que ele está também ligado à discriminação regional. O linguista, inclusive, afirma que, muitas vezes, o sotaque reproduzido por atores não nordestinos de fato existe.

As defesas tanto de Ramon, quanto de Marcos estão intimamente ligadas ao que escreveu em 2011 o historiador Durval Muniz de Albuquerque, no livro A invenção do Nordeste e outras artes — agora em sua quinta edição. Nele, o autor afirma que “o Nordeste, espaço da saudade, da tradição, foi também inventado pelo romance, pela música, pela poesia, pela pintura, pelo teatro etc”. Isso porque, para ele, os historiadores contam uma história através, também, de produtos culturais deixados por gerações passadas.

“Bolo louco” chamado Nordeste

Gabriela Almeida, doutoranda em Jornalismo da UFSC, concorda com a visão de Ramon em relação ao poder de construção da realidade pelas mídias. A recifense acrescenta que essas narrativas também criam uma espécie de Nordeste homogêneo, “transformam-no num bolo louco”. É como se a realidade do município de Formosa do Rio Preto, na Bahia, fosse a mesma encontrada no de General Maynard, no Sergipe.

A também recifense Alana Veras fica irritada com essas generalizações sobre a região. Em 2017, a doutoranda da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mudou-se para Limeira, em São Paulo, e, desde então, não foram poucas as vezes em que ouviu “ah, tudo lá pra cima…” quando pessoas queriam referir-se ao Nordeste. “Não gosto nem mesmo de ser chamada de nordestina. Gosto de ser chamada de recifense, de pernambucana. Cada estado tem sua identidade, ninguém é chamado de sudestino em São Paulo”, explica.

Alana, particularmente, também responsabiliza a educação de Geografia das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país pela falta de conhecimento sobre o Nordeste. “É impossível que ninguém aqui, estudante da Unicamp, não saiba quais são os estados do Nordeste, onde é a capital de cada um. Porque eu sei os estados do Sudeste, sei as capitais, e sei que cada um tem uma cultura”, afirma.

Juliana Freire percebe esse desconhecimento sobre a região onde nasceu, pois em Florianópolis, onde vive atualmente, dentro do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo, escutou de uma colega que ela havia sido ensinada, na escola, que os nordestinos são preguiçosos.

Já Gabriela Almeida costumava tentar construir, em sua cabeça, a imagem que pessoas do Sul do Brasil têm sobre o Recife com base em conversas que já teve. “O que eu via era que a Praia de Boa Viagem era uma praia quase como em Cancun. E aí eu saía do mar, tava andando na areia, entrava, passava pelo calçadão da Praia de Boa Viagem, da avenida, quando eu atravessava a avenida… pá Sertãozão, nada, olhava assim, só cacto”, conta rindo.

A filha de Milena, atualmente no ensino médio, sente que, muitas vezes, nas aulas de História e Geografia do seu colégio em Uberlândia, há a reprodução de imagens estereotipadas sobre os estados nordestinos. “É como se fosse tudo sertão”, conta a mãe. Por conta disso, não foram poucas as vezes que a menina foi questionada se já havia passado fome ou se não tem água em João Pessoa, onde morava.

O Nordeste conhece o Nordeste?

Talvez o problema não esteja apenas mais ao sul do país. No próprio Nordeste, alguns estudantes carregam consigo imagens estereotipadas da região onde vivem. Em 2012, uma atividade de estudantes de História da Universidade Federal do Ceará (UFC), através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), realizaram uma atividade de ensino-aprendizagem com estudantes de ensino médio da escola Liceu de Messejana, em Fortaleza, para discutir a invenção da região na perspectiva do historiador Durval Muniz de Albuquerque. Os resultados da experiência foram relatados no artigo “O Nordeste (não) é longe daqui: Reflexões sobre a ‘invenção do nordeste”, com alunos da educação básica, organizado por Jônatas Santos e Ingrid Oliveira.

A primeira pergunta feita aos estudantes do ensino básico foi: “Quando se fala em Nordeste, qual a imagem que lhes vem à mente?”. Os alunos da UFC então receberam respostas como “a seca, a fome, a miséria, calor, praias”. Entre elas, a que mais se repetiu foi sobre a seca. Depois, perguntados se os mesmos alunos identificavam-se com as características levantadas. As respostas foram: não.

No relatório, os estudantes de História escreveram que a dificuldade em imaginar o Nordeste para além da pobreza e seca “está ligado ao fato de nascermos dentro deste discurso do nordestino vitimizado, envolto numa teia de símbolos e estereótipos cristalizados”. Ramon acrescenta que isso remete, também, ao período colonial. No início, os primeiros ciclos econômicos, da borracha e ouro, davam-se no Norte e Nordeste, depois, houve um deslocamento da produção de riqueza para o Sudeste. “Como diz [o geógrafo] Milton Santos, Norte e Nordeste são regiões de perdas e não de investimento”, afirma o psicólogo.

O mestre em Ciência das Religiões explica que essa ideia de Norte e Nordeste como regiões de menor rendimento econômico estão relacionadas diretamente a preconceitos contra os nordestinos. “Isso acontece no nível simbólico, a gente avalia, faz um ‘pré-juízo’ e desdenha onde avaliamos que não é o local onde vai ocorrer o maior desenvolvimento de nossas habilidades”. Desses “pré-juízos” nascem os preconceitos, que ignoram particularidades. Por exemplo, quando a rapper Karol Conká afastou-se de Juliette Freire no Big Brother Brasil, ela acreditou que não valeria a pena investir na relação com a advogada e maquiadora. Um pré-juízo da cantora que, depois, revelou-se um preconceito regional.

“Nordestina privilegiada”

Essa ideia de Nordeste como região de miséria leva a situações como a vivida por uma amiga sergipana de Beatriz Veloso. “Ela comentou comigo uma vez, que chegou em um laboratório da universidade e as pessoas assumiram automaticamente que ela era pobre por ser do Nordeste”. Por sua vez, a filha de Milena teve de responder à pergunta sobre se havia passado fome no Nordeste, na escola em Minas Gerais.

Juliana Freire também viveu uma dessas situações em uma festa da família do namorado paulista, ao ouvir de um dos convidados que era uma “nordestina privilegiada”. Mesmo ficando extremamente incomodada com o comentário, não conseguiu reagir na hora, afinal “eu vivia muito bem em João Pessoa”, afirma. Ela sente-se, sim, uma pessoa com privilégios, não por ter saído da Paraíba, mas “porque tive acesso à educação, cresci numa família em que as pessoas são legais”. Sente-se privilegiada, sobretudo, porque percebe a riqueza e beleza de sua cultura.

Para além do estereótipo da pobreza, os nordestinos também têm de lidar com aqueles relacionados à capacidade intelectual e nível de escolaridade. “O Brasil seria um país cindido entre a inteligência do Sul, mais bem aparelhada em seus conceitos de realidade; e, de outro lado, o ‘nortista’, fantasioso, imaginoso e sensitivo, delirante e compadecido”, escreveu Durval Muniz de Albuquerque Júnior no livro A invenção do Nordeste e outras artes.

O psicólogo Ramon Fonseca sente que, independente de seus títulos, “você está sempre condenado ao estereótipo de sua região”. Quando morou em Brasília, ao pronunciar o nome de uma escola, escrito em latim, teve de lidar com a incredulidade do ouvinte. “Por que você sabe latim? Você não é do Nordeste?”. Já Milena ouviu que, por ser paraibana, teve muita sorte de conseguir passar no concurso para ser professora em uma universidade federal em Minas Gerais.

Intersecções de gênero e raça

É preciso entender, também, como o preconceito regional pode estar atrelado ao machismo, ou seja, é fruto da intersecção desses dois problemas. Quando Milena foi trocar a placa de seu carro em uma unidade do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), na cidade mineira onde vive, o atendente lhe perguntou se, na terra dela, só havia “mulheres macho”. A resposta da professora veio pronta e direta: “Mulher é mulher em todos os locais. Pode ser o que quiser em todas as regiões!”.

Por mais inocente que possa parecer, o termo mulher macho pode ter a ver, até mesmo, com a perpetuação da violência contra a mulher no Nordeste. Isso porque, conforme escreveu o historiador Durval Muniz no artigo “‘Quem é froxo não se mete’: violência e masculinidade como elementos constitutivos da imagem do Nordestino”, “o nordestino é pensado apenas como uma figura masculina e à masculinidade está associada necessariamente à violência”.

Para escrever esse texto, Durval levou em conta a literatura de cordel, em que as mulheres não vivem as histórias, mas, sim, as sofrem. Nas poucas vezes nas quais são colocadas na posição de protagonistas, apresentam, necessariamente, características ligadas ao masculino. “As mulheres nordestinas que se destacam socialmente, que ocupam cargos antes ocupados pelos homens, são necessariamente mulheres-machos”, concluiu o historiador.

É importante destacar o dado de que mais de 27% das mulheres nordestinas sofreram, ao menos uma vez, alguma situação de violência doméstica, de acordo com a Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar, da Universidade Federal do Ceará, junto ao Instituto Maria da Penha (IMP) e ao Instituto de Altos Estudos de Toulouse da França, divulgado em 2016. O estudo mostrou, ainda, que cerca de 20% dessas mulheres viram ou souberam de, durante a infância, violências vividas pela própria mãe dentro de casa.

Para além do gênero, é preciso pensar nas intersecções étnicas. Tanto Gabriela Almeida, quanto Milena, foram questionadas quanto ao seu tom de pele ao revelarem serem nordestinas. “Que estranho, você é tão branca pra ser do Nordeste!”, ouviu a doutoranda da UFSC, que ficou sem reação. De fato, a região é a que mais tem pessoas que se autodeclaram pretas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, em 2019, pouco mais de 11% da população assim se declarava.

Preconceito regional é crime?

Conforme a Lei nº 7.716, de 05 de janeiro de 1989, “serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Logo, o preconceito regional pode, sim, ser considerado um crime. Ramon alerta que, no entanto, o ser humano pode ser conivente com certas contravenções — principalmente, com aquelas cometidas contra quem não se atribui relevância política e social, isto é, minorias sociais. “Enquanto estiver enraizado como hábito cultural e não tivermos uma força política é muito provável que se persista nessa conivência com certos crimes”, conclui.

Para erradicar de vez o preconceito regional sofrido por nordestinos, o linguista Marcos Bagno escreveu, no livro Preconceito linguístico: o que é, como se faz, que é necessário, nas escolas, o abandono do mito de que há uma única maneira de falar português no Brasil, assim como é preciso o reconhecimento das variações desse idioma. Dessa maneira, as instituições de ensino seriam capazes de fazer um melhor planejamento de “políticas de ação junto à população amplamente marginalizada dos falantes das variedades não-padrão”.

Ramon acredita que o setor privado, como as grandes empresas de comunicação, também deva se posicionar. A doutoranda em Comunicação, Gabriela Almeida, concorda que é dever da mídia, de certa forma, redimir-se, pois no ponto de vista dela, assim como ajudou a construir os estereótipos sobre o Nordeste, esses canais de comunicação podem ajudar a desconstruí-los destacando a pluralidade encontrada na região. “Mostar os vários tipos de vegetação, os vários tipos de pessoa: pessoas punks, clubbers, gays, brancos, negros, gordos, magros…”.

É por isso que a presença de pessoas como Juliette Freire em rede nacional torna-se tão importante. Ramon Fonseca explica que a maquiadora mostra que não é necessário mudar sua essência para estar numa situação de destaque, afinal “eu consigo ter valor dentro da minha identidade cultural”. Ele vai além disso, afirmando que por meio dela é possível conhecer mais sobre a região. “Acho importante as pessoas verem uma pessoa tão preparada, nordestina, naquela posição. Assim, as pessoas podem conhecer um pouco mais do Nordeste através dela”, afirma a doutoranda Juliana Freire.

*Em função das versões digitais do Zero, por uma questão ética, a identidade da entrevistada foi preservada para evitar sua identificação e possíveis transtornos a ela e sua filha.

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Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UFSC

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