“Marcha contra o fim do mundo” contou com cerca de duas mil pessoas e marcou o terceiro dia do Seminário Internacional Fazendo Gênero
Cintia de Oliveira (deolcintia@gmail.com)
Cerca de duas mil pessoas tomaram as principais ruas do Centro de Florianópolis nesta quarta-feira, dia 31, em uma passeata que defendeu a legalização do aborto, o respeito ao corpo das mulheres e de pessoas LGBTQIAPN+, o fim do racismo, a demarcação dos territórios indígenas e mais comprometimento e mobilização contra as mudanças climáticas. A “Marcha contra o fim do mundo”, como foi intitulada a manifestação, fez parte da programação do terceiro dia de atividades do Seminário Internacional Fazendo Gênero 13, que está sendo realizado no campus da Trindade da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entre 29 de julho e 02 de agosto. Além dos debates e apresentação de pesquisas e trabalhos que enfocam e discutem “desafios às diferentes existências de mulheres e populações LGBTQIAPN+”diariamente também ocorrem apresentações musicais, teatrais e performáticas.
A coordenadora do Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da UFSC , que organiza o evento, Teresa Kleba, celebrou a marcha como um momento “muito significativo e importante” do Fazendo Gênero. Para ela, pautas como o antifascismo, anticapitalismo, justiça climática e questões territoriais são muito atuais e pertinentes, e devem ser aliadas ao feminismo.
“A gente está assistindo diariamente a expropriação das terras, o que estão fazendo com nosso Brasil, nossa Amazônia e todas as questões do meio ambiente”, enfatiza. Segundo ela, essas questões devem ser levantadas, assim como as pautas “mais tradicionais” das mulheres, como o direito ao aborto e divisão igualitária do trabalho doméstico e de cuidado.
A caminhada partiu do Largo da Alfândega e fez paradas em frente à Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), na Catedral Metropolitana e retornou, pelo Terminal Cidade de Florianópolis, para o ponto inicial. Em cada parada houve apresentações de blocos musicais. Apresentaram-se os grupos Africatarina, Maracatu Arrasta Ilha, Batuque Mulher Florianópolis e Cores de Aidê.
Também aconteceram performances e uma apresentação teatral da Cia Bruta Flor. Dentre as artistas que participaram da manifestação, estavam palhaças que relembraram a memória de Julieta Martínez. A artista venezuelana interpretava a palhaça “Jujuba” e viajava pelo Brasil fazendo apresentações havia oito anos. Ela retornava ao seu país natal em janeiro deste ano, quando foi vítima de feminicídio no estado do Amazonas.
Renata Barp, pesquisadora de gênero na área de História, está participando pela primeira vez do evento. Para ela, a melhor parte é encontrar pessoas e pensar novas formas de sociabilidade que não envolvam exploração “de mulheres, de pessoas negras, de pessoas indígenas”. Segundo Renata, a marcha lembra que essas pautas “partem de uma necessidade da população e tem que voltar para a população”.
Clarissa Brasil, que também participou da marcha, classificou o seminário como um “espetáculo” e a marcha de mulheres como “maravilhosa”.
Já Luiza Volpi, ouvinte do evento, considera que a marcha é a prática do que se discute nas mesas e debates do Fazendo Gênero. Segundo ela, “a gente não pode falar, sem de fato fazer a luta, sem colocar as mulheres na rua para lutar contra o facismo, que hoje é o que significa o fim do mundo”.
Confira abaixo imagens da manifestação e mais alguns relatos
Ingrid Sateré -Mawé disse que Fazendo Gênero está sendo importante para “ressaltar os direitos das nossas meninas, das nossas mulheres, da autonomia do nosso corpo, mas também para trazer nossas vivências, nossas experiências e pesquisas enquanto mulheres indígenas. O Fazendo Gênero é importante para as mulheres se entenderem enquanto um corpo-território-político”.
Elisabete Pereira, à esquerda, e Cristiane Melo, à direita, são pesquisadoras de gênero e raça da Universidade Federal da Bahia (UFBA), vieram de Salvador para participar do Fazendo Gênero.
Elisabete representa o Movimento Social de Mulheres Evangélicas do Brasil (Mosmeb). Segundo ela, esse grupo se posiciona “dentro das nossas instituições religiosas contra o patriarcado” e também contra a submissão das mulheres e o racismo.
Cristiane é do Coletivo de Professoras e Professores Negros de Lauro de Freitas. “Estou aqui a favor do direito ao aborto, em favor dos direitos reprodutivos e contra a intolerância religiosa, o racismo e o sexismo”, afirmou.
“Marcha contra o fim do mundo” aliou reivindicações com apresentações artísticas.
Blocos musicais do Carnaval de Florianópolis se apresentaram durante toda a marcha.
Em frente à Catedral também houve performances ligadas à reivindicação do direito ao aborto — e da personagem Ternurinha.
Palhaças relembraram Julieta Martínez, que foi vítima de feminicídio em janeiro de 2024.