A iniciativa fomenta o conhecimento sobre resíduos orgânicos e incentiva a prática da reciclagem
Por Ana Beatriz (quintoanabeatriz@gmail.com) e Karolaine Heckler (heckler.karolaine@gmail.com)
Florianópolis recolhe 219 mil toneladas de lixo por ano. Desse total, recicla 11% e tem como meta para 2030 reciclar 90% dos resíduos orgânicos. Para a Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap), autarquia responsável pela coleta de lixo, o principal desafio é a desinformação da população. Para superar esse problema, a Comcap promove o Museu do Lixo, que fomenta a educação ambiental e a consciência para reciclagem na cidade desde 2003.
Para o funcionário da autarquia e educador ambiental, Paulo André Bertolete, o museu tem o papel de ser “uma ferramenta de educação ambiental, além de ser um espaço para a visitação, temos um cunho ecológico.”
No Museu, encontram-se celulares dos anos 2000, discos de vinil e até um orelhão, usado para fazer telefonemas. São mais de 40 mil objetos no espaço localizado no bairro Itacorubi, na Rodovia Admar Gonzaga, em Florianópolis. O local é aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 8h às 15h, com entrada gratuita.
Para o funcionário da autarquia e educador ambiental, Paulo André Bertolete, o museu tem o papel de ser “uma ferramenta de educação ambiental, além de ser um espaço para a visitação, temos um cunho ecológico.”
Inaugurado em 25 de setembro de 2003, o Museu do Lixo é coordenado por educadores ambientais. O objetivo dos profissionais da autarquia é conscientizar a comunidade sobre a importância da destinação correta dos resíduos, e as problemáticas do consumo excessivo da sociedade.
O local tem o objetivo de conservar peças excêntricas que iriam para o lixo, mas foram recolhidas por garis ou recebidas por meio de doações. O acervo conta com diversos itens, como máquinas de escrever, guitarras, violoncelos e lustres. O objetivo, segundo Guilherme Ribas, um dos funcionários do museu, é “dar um novo significado às coisas ao invés de jogar no lixo.”
Educação ambiental e conscientização
O trabalho realizado no Museu do Lixo vai além da exibição de objetos antigos. A educação ambiental focada no descarte correto de resíduos sólidos é o cerne do projeto. O museu ensina como práticas simples, como a separação adequada de materiais recicláveis, podem ter um impacto significativo na redução do lixo acumulado.
Em 2023, Florianópolis recolheu 8,48% a mais de resíduos em relação ao ano anterior, e desse total conseguiu desviar 13,61% do aterro sanitário, promovendo a reciclagem e o reaproveitamento de materiais. Entre os materiais recicláveis mais valorizados, destaca-se o vidro, com 4.281,90 toneladas reaproveitadas, uma evolução de 16,24%. O reaproveitamento de eletroeletrônicos chama a atenção: em 2020 eram descartados corretamente apenas 29 toneladas, já em 2023, 104 mil toneladas são reaproveitadas, com crescimento expressivo de 93,48% nos últimos 3 anos.
As visitas de escolas são frequentemente guiadas por educadores como Bertolete, que reforçam a importância dessas ações.
“Uma coisa é alguém falar ‘separa o lixo’, outra é você mesmo olhar e ver o impacto dessa ação”, conta a professora Flavia Emediato, da Escola da Ilha, que frequentemente leva seus alunos do quinto ano do Ensino Fundamental para visitar o museu. Para ela, o objetivo é provocar uma mudança de atitude das crianças , incentivando-as a refletir sobre o consumo e o descarte.
O Museu do Lixo recebe anualmente em torno de 7 mil visitantes. Em 2023, foram recebidos 7.800 alunos, totalizando 640 escolas. A maioria dos visitantes é de crianças do Ensino Fundamental, de escolas públicas e privadas, que aprendem sobre a importância do descarte correto de resíduos sólidos e a necessidade de reduzir o consumo exagerado.
As visitas guiadas oferecem um tour educativo, que se inicia por uma palestra sobre o descarte correto de lixo, depois, os educandos são levados para uma sala onde conseguem enxergar como é feita a separação do lixo. Os educadores ambientais então seguem a explicar a importância da reciclagem, e também das pessoas que trabalham nesse ramo. Atualmente, são cerca de 60 pessoas que dependem da reciclagem na Comcap.
Após ver o processo de separação do lixo, no fim do tour, os alunos conhecem o acervo do museu e interagem com os educadores, além de aprenderem sobre a ressignificação do lixo por meio da arte.
No museu, essa ressignificação se materializa de formas criativas: peças e brinquedos são montados a partir de materiais reciclados, um trabalho feito por Nei Marques, também conhecido como Neiciclagem, embaixador ambiental criado pelo próprio Valdinei Marques
Personagens como Dona Tainha, de Joseane Rosa, e Vento Sul e Reciclardo, de Ricardo Conceição, trazem um aspecto lúdico às ações de educação ambiental, sendo utilizados para dialogar com crianças e promover reflexões sobre consumo consciente.
A arte do lixo e seu valor
Entre os objetos do museu, muitos possuem histórias únicas. As três poltronas de um Boeing 737, doadas pelo antigo Museu da Aviação de Santa Catarina, são exemplos de peças que, além de seu valor histórico, foram adaptadas para criar um espaço interativo no museu, pois fazem parte do grande círculo de cadeiras “improvisadas” para uma roda de conversa.
“Essas peças já foram importantes para alguém, elas contam uma história”, explica Bertolete. Segundo ele, os visitantes frequentemente se emocionam ao reconhecer objetos que fizeram parte de suas vidas, como velhas enceradeiras ou máquinas de costura. “Cada um tem um relacionamento diferente com os objetos”, destaca.
Bertolete, que iniciou sua carreira como gari na Comcap, e hoje atua como um dos três educadores ambientais do museu, ressalta o impacto emocional que o local proporciona. Para ele, o museu oferece uma surpresa em cada visita, ao resgatar memórias e proporcionar um novo olhar sobre o que seria descartado como lixo.
Além de ser um espaço educativo, o museu também realiza empréstimos de alguns objetos de seu acervo, que podem ser utilizados em produções audiovisuais e teatrais. O processo de aluguel é simples: basta assinar um termo de compromisso, fornecer dados como CPF, nome e endereço, e informar o objetivo do empréstimo. Essa prática reforça a ideia de reutilização e ressignificação dos objetos, que, ao invés de descartados, continuam a ter utilidade e propósito.
Com um acervo único e um propósito transformador, o Museu do Lixo continua a promover educação ambiental e a conscientizar sobre o impacto do consumo e do descarte de resíduos, provando que até o que se considera lixo pode ter valor.