Noite Lilás Cabaret volta aos palcos

Zero
ZeroUFSC
Published in
4 min readDec 13, 2023

--

União de alunos de artes e música da UFSC e Udesc dá vida ao musical que desafia preconceitos e celebra a liberdade

Larissa Santos (larysantosflsc@gmail.com) & Roberto Roberto Amazonas (amazonasroberto204@gmail.com)

A Noite Lilás Cabaré, musical produzido e encenado por alunos dos cursos de Artes Cênicas e Música da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), de Artes Cênicas e Música, voltou este ano com a temática LGBTQIA+fobia, o valor da vida dos artistas e a celebração de corpos livres. Com a condução dos professores e artistas Bárbara Biscaro, Daniel Colin e Lucila Vilela, o evento aconteceu nos domingos, 5 de novembro e 3 de dezembro, no Didico’s Bar.

Este ano, o musical ganha uma interpretação enérgica e política que pôde ser percebida, principalmente, pelas músicas e os figurinos, como nas canções Bixa (Eduardo Bassani em criação com a Cia. Mosca @ciamosca), Geni e o Zepelim (Chico Buarque), A Canção Lilás (Das Lila Lied — Mischa Spoliansky e letra de Kurt Schwabach).

Origem: A Noite Lilás é um espetáculo de cabaré que une arte, música e teatro. Inspirado no quadro “Metropolis”, de Otto Dix, os artistas criam uma performance em que o grotesco ganha vida. Com a canção Das Lila Lied como destaque, hino dos direitos LGBTQIA+ e originária da década de 1920 na República de Weimar, na Alemanha, a Noite Lilás passeia também por sonoridades brasileiras, do tropicalismo às vanguardas, para criar um espaço de liberdade para além das barreiras de gênero. No bar, a imersão vai além do palco, explora a performatividade cênica no ambiente essencial do cabaré. Diversão, deboche, humor e política se misturam em uma noite única.

Cenário: A abertura da peça é feita pela banda Montanha de Fogo, com a apresentação de Marragônia. A canção é definida pelos artistas como “as areias do deserto que revelam um palco inusitado para uma experiência teatral única. À sombra da iminente tempestade de areia, a cidade dos jogos, que não tem ninguém por perto, emerge como um cenário perfeito para a expressão autêntica”.

Equipe: Para que a apresentação aconteça, o trabalho não é individual. O musical tem a participação de mais de 100 pessoas, entre atores, músicos, roteiristas, técnicos, apoiadores e funcionários do Didico´s Bar. Organizado e realizado de forma independente, o musical mostra a falta de incentivo e de políticas públicas que a cultura sofre.

Investimento: Os artistas, em forma de protesto, durante a cena em que cantam a música “Dólar vale mais que eu”, transitam pelo espaço, principalmente entre o público, entregando folhetos com QR code/Pix e pedem dinheiro, para estimular as pessoas a investirem no espetáculo e na arte. Para a artista Danieli Finaú, o maior desafio em realizar um projeto desse tamanho é o financeiro. “A gente precisa de vários recursos para levar acesso a outras pessoas e lugares, às vezes ficamos meio restritos a esse nível financeiro”. A professora Lucila Vilela concorda e explica que a maior dificuldade é a precariedade e a falta de dinheiro. “O projeto é possível porque estava vinculado à Universidade, nesse sentido tem apoio e o compromisso dos estudantes em tornar isso um processo pedagógico”.

Figurinos: Coloridos, chamativos e disruptivos, as roupas usadas pelos artistas da peça contam uma história à parte. Inspirados pelos personagens definidos, os próprios artistas trabalharam no desenvolvimento dos seus figurinos. “Parte deles vem da rouparia da Udesc, outra parte da UFSC e o restante a gente procurou em brechós. Então, tem de tudo um pouco. Foi uma construção bastante coletiva, independente, mas coletiva”, relembra a atriz Danielli Finaú.

Luta: No fim do cabaré, os artistas, durante a performance da música “Hannelore” , no trecho em que cantam “ninguém sabe se é homem ou mulher”, fazem um suspense e a personagem Dandara declama “É travesti, meu amor”; em seguida todos gritam e seguem com o coro. A Noite Lilás enfatiza em todos os momentos que o espetáculo fala sobre liberdade. “A apresentação traz a questão de ser você mesmo, livre, sem julgamentos, com muita alegria e amor de sermos quem somos”, destaca Lucila.

Homenagem: Alguns dias antes da estreia do espetáculo, uma notícia abalou os artistas. O falecimento da estudante de Artes Cênicas e colega da equipe, Paula Pivato. Em conjunto, os artistas e produtores, escolheram continuar com o espetáculo para homenageá-la: “decidimos dedicar a ela, reconhecendo que a arte abrange tanto a vida quanto a morte”, relata Natália. “A Noite Lilás, buscou honrar a memória de indivíduos como Paula, que dedicaram suas vidas à arte”, completa.

--

--

Zero
ZeroUFSC

Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UFSC