O plástico como inimigo número um

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5 min readFeb 12, 2020

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Santa Catarina é o segundo maior estado produtor de plástico

Texto por Dominique Cabral e Maria Eduarda Dalponte

Em sociedades movidas pelo consumismo, usar e descartar embalagens plásticas se tornou um hábito diário. Por ano, os oceanos recebem em torno de 8 milhões de toneladas de lixo, 70% de resíduos plásticos, de acordo com a última estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU). As imagens do lixo plástico boiando nos oceanos acionou um alerta global sobre a necessidade de rever o uso exacerbado desse material. O problema é equacionar isso e o desenvolvimento econômico.

Santa Catarina é hoje o segundo maior estado produtor de plásticos, representa 10% da produção brasileira, ficando só atrás de São Paulo. O setor catarinense de plásticos emprega 50.648 pessoas e arrecada R$ 13 bilhões com a produção industrial, ou seja, 8,9% da receita arrecadada pelas indústrias estaduais. A discrepância entre a movimentação econômica e a necessidade de rever a poluição gerada vem se tornando um debate constante.

Políticas públicas visando diminuir o consumo diário de plástico deram origem à Lei Estadual nº 8.006/18, do Rio de Janeiro, que proíbe sacolas plásticas descartáveis nos estabelecimentos comerciais que devem oferecer alternativas recicláveis ou biodegradáveis. A cidade do Rio de Janeiro também foi pioneira na proibição dos canudos plásticos e lançou a campanha “Desplastifique já”.

Em Florianópolis, a prefeitura espalhou totens de tartarugas engolindo canudos pela cidade com a mensagem #PLASTICOMATA. Também assinou o decreto 18.646, de quatro de junho de 2018, que institui o Programa Florianópolis Capital Lixo Zero e consagra o município como o primeiro do país a oficializar essa ação. No documento, fica estabelecido que 90% dos orgânicos e 60% dos recicláveis serão desviados do aterro até 2030. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por sua vez, implantou o movimento UFSC SEM PLÁSTICO, com a finalidade de reduzir e, futuramente, erradicar o consumo de descartáveis dentro do campus Florianópolis.

“As políticas públicas em relação ao tema ainda são modestas. Tudo começa pela educação e não basta uma cartilha para educar, não pode ser só uma atividade paralela”, afirma William Gerson Matias, professor e engenheiro sanitarista e ambiental da UFSC. Para Lucas Sebastião, tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Materiais Plásticos (Sintiplabi), localizado em Biguaçu, “as indústrias plásticas não são responsáveis pela poluição do ambiente”. O que falta, na opinião dele, é mais foco na educação, o que é contestado pelo engenheiro William. “A indústria está produzindo, a poluição é um passivo deles. É necessário pensar no depois, não só colocar na cadeia de consumo, mas aliar o ganho de dinheiro e investir na educação de base e em setores ambientais”.

Indústria plástica: estratégia para SC

De acordo com o Sintiplabi, a Grande Florianópolis possui cerca de 3.500 empregos na base da indústria plástica. Mas todas as regiões catarinenses têm esse setor como um pilar para a economia, como explica o analista de inteligência da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Henrique Reichart. “Por conta da capilaridade do setor de plástico, todas as regiões acabam sendo dependentes deste insumo, inclusive por isso as importações têm tanto peso”.

O setor plástico, juntamente com a cadeia de produtos químicos, foi escolhido pela Fiesc como um dos setores estratégicos para o desenvolvimento do estado. Ainda que tenha obtido resultados negativos em 2019 — com recuo de 0,3% na fabricação de produtos de borracha e material plástico, segundo o Radar Econômico do Observatório da Fiesc — o setor continua sendo positivo para o estado. “Santa Catarina é destaque na logística portuária e muito dos produtos que entram em Santa Catarina são distribuídos para outro estados. É o caso dos polímeros de etileno, que alcança os maiores valores de importação aqui, chegando a US$ 320 milhões neste ano (de janeiro a novembro)”, afirma Henrique. O maior destaque dessa indústria em Santa Catarina é a produção de tubos e artefatos de conexões, principalmente na região de Joinville, com presença das indústrias como Tigre, Krona e Durín.

Produção do plástico

A AC Plast é uma das indústrias do polo do plástico de Santa Catarina. Com 10 anos de história, a fábrica saltou de um terreno de 40 m² para 2.000 m². “Produzimos saquinhos usados no setor de frutas e verduras, e os supermercados acabam usando-os no setor de açougue”, explica Claudemir da Silva, sócio e diretor da AC Plast. Com 60 funcionários, a indústria produz, em média, 40.800.000 saquinhos por mês.

A AC Plast se orgulha por realizar sua fabricação com matéria-prima 100% virgem, apropriado para o ramo da alimentação. “Hoje no mercado, o pessoal usa mais material recuperado, produto reciclável, matéria que às vezes é coletada em lixões e o pessoal acaba só recuperando e colocando para venda, não deveria ser permitido para alimentos”.

Claudemir percebe uma diminuição na produção dos produtos plásticos, mas não relaciona aos movimentos sem plástico. “O mercado está meio ocioso, diminuiu as vendas em geral. Acredito que seja por causa dos concorrentes que oferecem produtos mais baratos, feitos com material recuperado”.

Futuramente, a AC Plast pensa em uma produção mais consciente. “Ano que vem queremos produzir tubetes de papelão, porque a reciclagem é mais rápida. Outra opção é produzirmos materiais mais finos, com decomposição mais rápida, sem usar recuperados”.

Biodegradável como alternativa

Algumas empresas do setor buscam se adequar aos materiais biodegradáveis, que não trazem tantos malefícios ao meio ambiente. “Está havendo uma desvalorização do setor plástico junto à opinião pública, devido ao surgimento do biodegradável, mas a matéria-prima ainda é muito cara”, analisa Lucas, do Sintiplabi.

O analista da Fiesc acredita no potencial da produção catarinense. “As empresas do setor plástico de Santa Catarina contam com produtos sofisticados e áreas de P&D que buscam melhorias contínuas nos seus processos produtivos, tornando-os mais sustentáveis e eficientes”. A biotecnologia é uma das tendências mundiais que já faz parte dos projetos empresariais de Santa Catarina.

Já o professor e engenheiro William não acredita que a produção do plástico biodegradável seja a solução ideal para o problema da poluição ambiental. “O maior problema do plástico é a questão da degradação desse material, que entra na cadeia alimentar dos ecossistemas. A maioria da população já tem concentrações de plástico no organismo e isso não é solucionado pelo material biodegradável”, alerta William.

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Written by Zero

Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UFSC

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