O que você pensa sobre o feriado nacional do Dia da Consciência Negra?

Zero
7 min readNov 20, 2024

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Pela primeira vez, o dia 20 de novembro é considerado feriado em todo o território nacional; o Jornal Zero foi às ruas ouvir as opiniões dos moradores de Florianópolis

Reportagem por Karolaine Heckler, Luana de Almeida, Luiza Casali, Nathalia Madeira, Maria Fernanda Honório e Pedro Guerrazzi

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é comemorado desde 2011, mas o dia 20 de novembro tornou-se um feriado nacional somente a partir da Lei 14.759/2023. A data celebra a resistência de Zumbi dos Palmares como figura símbolo da luta contra a escravidão e o racismo em suas diversas formas. Em Florianópolis, uma série de eventos acontece ao longo desta semana, incluindo ações da Universidade Federal de Santa Catarina.

O Jornal Zero entrevistou moradores da cidade para saber o que acham deste novo feriado. Confira os depoimentos:

Jean Samuel Rosier, 40, economista, haitiano-brasileiro

Foto: Acervo pessoal.

“Eu acho que tornar esse dia feriado é separar um dia para os negros sentarem e refletirem sobre a situação deles no país e no estado. Muitas vezes, os negros não tem tempo, mas quando você tira um dia, não vai trabalhar, então pode ser um dia de muitas reflexões, de conscientização, a partir do qual muitos projetos concretos podem surgir. É essa expectativa, é essa esperança, porque mesmo que você tenha declaração do fim da escravidão, você nunca teve o fim das desigualdades, do racismo, do trabalho análogo a escravidão. Você tem uma continuidade das mesmas relações coloniais durante séculos até os dias atuais. Parece que é um problema do passado, mas é um problema atual. A nação, não só os negros, a nação como um todo, porque é um problema brasileiro, não só dos negros, precisa pensar e refletir sobre as soluções. Qual Brasil queremos daqui a 50 anos? Qual Brasil queremos daqui a um século? É um dia de muita reflexão para nós todos.

Rozane Rodrigues, 27 anos, auxiliar de cozinha, brasileira

Foto: Nathalia Madeira.

“Eu acho muito importante, porque os meus ancestrais sofreram muito e hoje podemos ter as nossas lutas porque eles sofreram. Com a Lei Áurea a gente conseguiu sair dessa escravidão. Então, hoje temos a liberdade de viver e de fazer as nossas coisas.’’

Ralf Ebsen, 89 anos, servidor público aposentado, brasileiro

Foto: Pedro Guerrazzi.

“Eu vou dizer uma coisa pra ti, um país se constroi com trabalho. Quem não trabalha, não constroi. Então eu acho uma coisa absurda. Agora oficializou no Brasil todo, eu não concordo. Todo dia, se tu olhar no calendário, tem alguma coisa. Não vejo problema nenhum quanto a isso. Agora, o dia se tornar um que não se trabalha? Eu discordo.”

Simone Pedrini, 50 anos, professora, brasileira

Foto: Nathalia Madeira.

“Eu acho importante, precisa ter essa representatividade. Ainda é muito invisibilizada essa questão do racismo, então precisamos ter isso, principalmente para as crianças. Na minha opinião, o Brasil tem muitos feriados inúteis. Ter um que seja relevante é fundamental para podermos parar o dia e refletir sobre o tema.”

Maria Clara Lima, 23, estudante de Jornalismo, brasileira

Foto: Karolaine Heckler.

“É um avanço, mas parece apenas um começo. Muita gente pode achar que é um grande marco, mas não adianta muita coisa ter um feriado ou um mês, mas não ter nenhuma promoção nas ações afirmativas ou valorização da cultura negra. É um feriado que se não tiver nenhuma ação que promova a história e a consciência negra fica só para dizer que tem.”

Evory Pedro Schmitt, 69, jornalista, brasileiro

Foto: Karolaine Heckler.

“Do ponto de vista feriado, acho que é mais um e que não é bom para o país. Sobre o motivo, acho plenamente justificado e extremamente necessário, principalmente aqui no Sul do Brasil que é a região mais racista do país.”

Antonio Carlos Xavier, 71 anos, professor aposentado, brasileiro

Foto: Nathalia Madeira.

“Acho que está até muito tarde. Deveria ter virado feriado nacional bem antes. Cor, raça, preconceito… Aqui, no Brasil, tem demais. Principalmente em Florianópolis. Precisamos batalhar, ver isso com outros olhos.”

Adelcio Machado dos Santos, 63, cientista político, brasileiro

Foto: Karolaine Heckler.

“Extremamente necessário. A contribuição da população negra no Brasil precisa ser considerada. Sou totalmente favorável. Não houve um acerto de contas com todos os serviços que essa população ofereceu e oferece ao Brasil e a sua construção. É muito importante nos conscientizarmos sobre isso.”

Victoria Twardowski, 25, vendedora, brasileira

Foto: Karolaine Heckler.

“Acho que é bom e que demorou para reconhecer esse feriado e a importância dele diante de todo o sofrimento.”

Kaleb Correia da Silva, 23 anos, cozinheiro, brasileiro

Foto: Nathalia Madeira.

Acho muito bom paralisar o Brasil para fazer as pessoas pensarem que a cor de pele, algo que não muda nada, faz diferença na forma como somos tratados no supermercado por pessoas nos olhando torto. Espero que a gente tenha direito de opinar não só sobre a nossa cor, mas sobre outros assuntos também.”

Isabela Vault Correia, 14 anos, menor aprendiz na área jurídica, brasileira

Foto: Nathalia Madeira.

O feriado da consciência negra é muito importante, mas eu acho que esse tema não está sendo trabalhado tanto quanto deveria. Seria muito interessante fazer uma Parada só para pessoas negras, para que a gente possa dar a nossa opinião verdadeira, sem ficar na sombra de ninguém. Esse assunto devia ser falado mais nas escolas, de um jeito mais legal. Na minha por exemplo, eles falam, mas é de um jeito entediante e não conseguimos debater sobre. Então, eu acho muito legal que finalmente estão dando importância para isso.”

Cristine Cabral, 52 anos, psicóloga, brasileira

Foto: Nathalia Madeira.

É uma data super importante. Tinha mesmo que virar feriado nacional. Precisamos discutir muito sobre isso. As pessoas falam muito, até em redes sociais, que o racismo é ‘mimimi’, que já não existe mais racismo.Isso é uma mentira. No cotidiano, no dia a dia, vemos muitas situações de racismo onde a pessoa nem parece ter consciência que está sendo racista, então é necessário conscientizar. E é necessário que venham outras datas para marcar esse tema.”

Mariane Venâncio, 38 anos, auxiliar administrativo, brasileira

Foto: Nathalia Madeira.

“Uma data importante, significativa. Porém, o que eu observo é que as pessoas não têm noção do quão grande é esse significado.”

Flávio da Luz, 46, Corretor de imóveis, brasileiro

“A data, a comemoração é relevante. Não serve como reparação histórica, pois não é o suficiente para isso, mas acho que é um marco importante para, pelo menos, levar à reflexão do passado. É importante principalmente no Brasil, onde os negros tiveram muita e total importância na nossa constituição e em sociedade. É, no mínimo, um ato de respeito para reforçar a união entre todos.”

Caroline Venâncio, 5, brasileira

“Nota 10!”

Maria Luiza Salvador, 23 anos, social media, brasileira

Foto: Acervo Pessoal.

“Acho mais do que justo. Temos tantos feriados ligados a datas forjadas como o da Independência, não faria sentido uma data tão importante como o Dia da Consciência Negra, por tudo que representa, não ser. Vivemos em um país muito racista, com um histórico pavoroso, é preciso esse tipo de data para mostrar resistência e quem sabe mudar a mentalidade das pessoas.”

Rosani Maria Pellense da Silva, 66 anos, professora aposentada, brasileira

Foto: Acervo Pessoal.

“Acredito que não teria necessidade de criar um feriado nacional para este fim. O governo poderia, sim, criar políticas de educação referentes a este assunto, formando um povo mais consciente, sem desigualdade social, incluindo o respeito, união, paz entre todos, independente da cor, distinção social, entre outros. Este assunto deveria ser trabalhado e discutido diariamente, desde os primeiros anos de escolaridade do ser humano. Somente com uma educação de qualidade e eficiente poderemos ter um povo bem mais esclarecido, consciente, participativo e sem discriminação.”

Ruth Maria Nascimento, 35 anos, estoquista, brasileira

Foto: Acervo Pessoal.

“O feriado é de extrema importância, precisamos reforçar mais a importância para a conscientização negra. Para muitos é só uma data, mas pra quem sofre, pra quem já sofreu e pra quem tem filhos negros que vão crescer e vão passar por situações racistas, é muito importante ter essa data. Independente se for considerado feriado ou não, o dia precisa ser lembrado e falado. Consciência tem que ter todos os dias.”

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Written by Zero

Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UFSC

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