Restaurante Universitário da UFSC reabre em abril de 2022, com volta das aulas presenciais
Secretaria de Planejamento Orçamentário garante que o valor de R$1,50 para os acadêmicos será mantido
A fila para tomar a primeira dose da vacina contra a Covid-19, ao lado do Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), lembrava a do Restaurante Universitário (RU). Antes de fechar, em março de 2020, por conta da pandemia do novo coronavírus, o aluno que almoçasse no RU da Trindade, em horário de pico, poderia ter que esperar mais de meia hora para conseguir entrar. Por isso, para muitos estudantes que se vacinaram ali, o momento foi de recordação.
Quando as aulas eram presenciais, Raphael Pacheco Caldeira, 25 anos, estudante de Letras-Português, dependia do RU e da isenção que tinha nele. “Eu passava o dia na faculdade, estudava quase período integral, então muitas vezes eu almoçava e jantava no RU e na maioria das vezes era a única alimentação que eu tinha durante as aulas”.
Com a pandemia da Covid-19, a UFSC passou a oferecer um Programa de Auxílio Emergencial. A ajuda de R$200,00 — atualizada para R$300,00 a partir de dezembro de 2021 –, oferecida pela universidade, para despesas básicas aos estudantes em situação de vulnerabilidade econômica com cadastro na Pró-Reitoria de Assistência ao Estudante (Prae), foi importante para Raphael conseguir se alimentar durante esse período. “Não dava para passar o mês [com o valor], mas era meio que complementar à minha bolsa estágio. Ainda assim, era bem apertado”.
O estudante de Letras afirma que, no início da pandemia, o auxílio da universidade tinha mais poder de compra, principalmente por coincidir com outro benefício que ele também recebeu, o Auxílio Emergencial — concedido via Governo Federal. Porém, com a crise e os preços aumentando, a renda foi perdendo força.
Em 2019, em meio à ameaça de contingenciamento das verbas da educação superior, o projeto ECOA UFSC calculou quanto custava uma refeição subsidiada pela universidade. Na época, um prato com arroz, feijão, cubos de carne e salada valia em média R$6,00 para os cofres da instituição, sem considerar gastos com água, luz e funcionários. Hoje, estes ingredientes não saem por menos de R$8,00, no mesmo mercado de 2019.
As diferenças de preços têm sido sentidas nas licitações feitas pelo RU, apesar disso, o secretário de Planejamento e Orçamento, Fernando Richartz, garante que a UFSC está se preparando para o retorno presencial e que o valor de R$1,50, oferecido aos estudantes, não mudará. O gestor reconhece que a maioria dos alunos que faz suas refeições no RU precisa dessa assistência estudantil.
“A quantidade de pessoas que vão voltar a frequentar o RU tende a aumentar, porque a situação social piorou durante a pandemia e pessoas que no passado optavam por não almoçar lá, hoje talvez precisem buscar o RU”. Segundo Fernando, um indicativo disso é que a cada mês o volume de solicitantes do Auxílio Emergencial tem crescido. Por isso, ele acredita que em 2022, a quantidade de isentos também irá subir. Em 2019, o número era de 6.379 beneficiados.
Orçamento 2022
A Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2022, que determina o montante que o Ministério da Educação (MEC) irá receber para repassar a cada universidade, ainda não foi votada. Contudo, Fernando acredita que será um ano mais tranquilo. De acordo com ele, a previsão de recursos do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) voltou aos patamares de 2019, em 2021 havia sofrido um corte. O dinheiro vindo do programa deve ser direcionado a ações que garantam a permanência universitária, como o pagamento de bolsas e despesas com o RU.
“Outra coisa que nos deixa mais seguros de que vai dar, é porque nós já estamos fazendo bastante manutenções esse ano, para ter recursos para atender outras demandas ano que vem”. Além disso, por conta do ensino não presencial, economias com as contas de água, luz e limpeza puderam ser feitas.
Fernando garante que manter o RU aberto é prioridade da UFSC e que em apenas cenários catastróficos seu uso seria restringido só aos estudantes isentos. Ainda sobre 2022, ele reforça que o orçamento previsto é suficiente para a instituição ficar de portas abertas, mas não é o ideal para manter a excelência. “Eu gosto sempre de destacar que não é que vai fechar a universidade, mas a qualidade vai se reduzindo [ao longo dos anos] a um ponto que preocupa gerações futuras”.
A abertura dos restaurantes universitários da UFSC — Trindade, Centro de Ciências Agrárias (CCA), Araranguá, Blumenau, Curitibanos e Joinville –, seguirá a data estipulada no calendário acadêmico aprovado pelo Conselho Universitário (CUn) para o semestre 2022–1, isto é, reabrirá em 18 de abril de 2022.
Para Carla Leite, 22 anos, aluna de Oceanografia, essa não é uma notícia muito animadora. “A carne tá muito cara, para quem come carne igual eu. Tá muito difícil, tá tudo muito caro. Com R$200 a gente não compra nada”. Carla também recebe da universidade o Auxílio Estudantil e o de Internet. A estudante, natural de Belém (PA), está desde o início da pandemia sozinha em Florianópolis e sente saudades do RU.
O aumento para R$ 300,00 do Auxílio Emergencial da UFSC é resultado da demanda e pressão dos universitários. O Pró-Reitor de Assuntos Estudantis, Pedro Barreto, afirma que desde o início estavam cientes de que o valor [R$ 200,00] era baixo, contudo era o que podia ser pago. De acordo com ele, não houve aumento de verba para possibilitar o reajuste agora, apenas a cooperação de gerência financeira entre a Prae e a Secretaria de Planejamento e Orçamento (Seplan).
“Agora eu preciso até comprometer meu aprendizado porque preciso cozinhar, porque se eu não cozinhar eu não como”.
Carla enfatiza que acabou deixando os cuidados com sua alimentação de lado nesses últimos dois anos. “Tive até alguns problemas de saúde por comer muita besteira, ganhei muito peso. Às vezes é difícil ter ânimo para cozinhar”. Na Oceanografia ela tem aulas em período integral, com rotina corrida, acaba pulando algumas refeições. “Por exemplo, se eu for fazer almoço tem que ser enquanto eu tô na aula. Antes eu não tinha que fazer isso, eu só ia ali no RU e tudo bem. Agora eu preciso até comprometer meu aprendizado porque preciso cozinhar, porque se eu não cozinhar eu não como”.
O secretário de Planejamento e Orçamento reitera que a gestão esteve preparada para voltar com o RU, quando fosse necessário. Tendo em vista, que os processos licitatórios e de aquisição de gêneros alimentícios dos restaurantes universitários estão em fase final e que havia a possibilidade de remanejamento de verba. Contudo, a decisão parte do CUn, que baseia-se no Guia de orientações para preparação de retorno gradual de atividades presenciais na UFSC.
Se o RU voltasse hoje?
Tanto Raphael, quanto Carla afirmam se sentirem seguros para frequentar o RU agora, com as duas doses da vacina. Para a estudante de Oceanografia, seria um alívio poder voltar a ver alguns amigos de curso. “Ajudaria eu a sair de casa, a pegar um sol, andar um pouco, me alimentar com uma comida de qualidade, uma variedade de coisas que com o dinheiro que a gente recebe não dá para ter”.
Porém, para o RU voltar às atividades, o secretário defende que seria necessário suspender o benefício do Auxílio Emergencial pago pela universidade. “Para abrir o RU, o custo é muito elevado, abrir ele hoje para poucas refeições é inviável”. Por outro lado, o imunologista Rafael Assumpção Larocca ressalta que seria um bom momento para planejar a volta, uma vez que há menos estudantes no campus. “Se você se prepara agora, já faz um esquema; em abril, quando voltar, já saberá o que fazer, aí você não tem um problema”.
Nesse momento da pandemia, com mais de 62% dos brasileiros completamente vacinados, o risco de contaminação ao utilizar espaços fechados, como o RU, varia de acordo com a quantidade de infectados no ambiente. Larocca destaca que os cuidados necessários para tornar a prática mais segura envolvem ações de baixo custo para a instituição.
Assim, o ideal seria diminuir a capacidade de usuários, manter todas as janelas abertas, ampliar o tempo de almoço e jantar oferecido, aconselhar a retirada da máscara apenas na hora de se alimentar, realizar o distanciamento nas mesas, evitar conversas durante a refeição, higienizar as mãos e não demorar muito comendo.
O imunologista salienta que o cenário está progredindo positivamente, com cada vez mais vacinados e menos infectados no Brasil. No entanto, o exemplo da Europa, atualmente, mostra que a situação para abril não é certa. Em geral, quando há o relaxamento de restrições, os números tendem a subir, mesmo que de forma diferente com a imunização em massa.