Um ano de UFSC no modo remoto

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6 min readMar 11, 2021

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Com campi esvaziados pela pandemia, desafio é zelar pela infraestrutura física; hospital e laboratórios não pararam

Reportagem de: Zé Maia e Renan Schwingel

“Por dentro dos prédios eu não sei como está, porque, se você tem alguma necessidade, só entra com autorização dos Centros.” O relato é do acadêmico Paulo Afonso Filho, 24, que cursa Engenharia de Produção Mecânica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ele é um dos quase 30 mil estudantes de graduação da UFSC que tiveram a vida estudantil alterada pela pandemia da Covid-19, a qual levou ao cancelamento de praticamente todas as atividades presenciais na instituição em 16 de março de 2020.

Toda a comunidade universitária foi afetada pelas medidas restritivas e a UFSC, sempre movimentada, hoje está irreconhecível por seu esvaziamento: antes da pandemia, o RU servia diariamente sete mil refeições; a Biblioteca Universitária emprestava uma média de 1,5 mil livros por dia; e 47 mil pessoas, entre estudantes, professores, servidores técnicos administrativos e pessoas da comunidade circulavam nas dependências dos cinco campi do estado.

Agora, quase um ano depois, o cenário da pandemia em Santa Catarina afasta ainda mais as chances de um possível retorno total, mesmo que híbrido, das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Até o fechamento desta reportagem, segundo boletim epidemiológico do governo do estado, todas as regiões catarinenses apresentam a bandeira vermelha — alerta que indica aumento gravíssimo nos casos de infecção pela Covid-19 e falta de leitos de UTI.

Na capital, Florianópolis, em 8 de março, 100% dos leitos de adultos, para pacientes com Covid-19 estão ocupados. Sem uma data para o retorno das atividades, a reitoria, junto aos órgãos administrativos da universidade, se preocupa com a manutenção e conservação dos espaços físicos, que em sua maioria permanecem sem uso. A exceção, além do Hospital Universitário, são alguns laboratórios que não puderam cessar pesquisas — algumas delas voltadas para o combate ao novo coronavírus.

Suspensão das atividades provoca mudanças

Fundada em dezembro de 1960, a Universidade Federal de Santa Catarina é referência internacional em diversos âmbitos de pesquisa e extensão. Em 2020, a instituição foi reconhecida pela Times Higher Education como uma das sete melhores do país, tendo liderado este ranking no quesito que define a influência da pesquisa através do número de citações. Ao todo, a UFSC dispõe de cinco campi, sendo o maior deles o campus Reitor João David Ferreira Lima, na Trindade, em Florianópolis. Além de contar com espaços de grande circulação de pessoas em tempos de normalidade, como a Biblioteca Central, o Restaurante Universitário, o campus possui 11 centros de ensino, 639 laboratórios entre 75 departamentos. Cada chefe de departamento é responsável pela organização e manutenção das instalações, mesmo durante a pandemia.

De acordo com a Chefe do Departamento de Jornalismo, a professora Leslie Sedrez Chaves, todos os cuidados com relação à estrutura do departamento têm sido mantidos. “Num primeiro momento, buscamos resguardar todas as pessoas, inclusive os servidores terceirizados. Depois, elas retornaram ao trabalho.” No momento, duas funcionárias do serviço de limpeza trabalham no local diariamente. Segundo Leslie, os horários de expediente são espaçados, evitando aglomerações, e os laboratórios têm sido abertos periodicamente para verificar como estão os equipamentos. “Nesse momento que não tem ninguém tendo aula presencial, a gente afastou os computadores para não molhar”, explica, referindo-se ao risco de danos pelas chuvas.

Para seguir as regras que prevêem o distanciamento, o trabalho na chefia de departamento ocorre remotamente, alterando a dinâmica da rotina. “Em alguma necessidade pontual, a gente vai ao departamento para resolver, como no caso da distribuição dos computadores para os alunos.” A UFSC fez empréstimo de equipamentos e dados de acesso à internet para alunos que o solicitaram, quando houve a confirmação de que o ensino remoto ocorreria.

Frente do prédio da reitoria, no campus Trindade. Imagem: Acervo/Agecom

A Administração Central da UFSC, que decidiu pela suspensão das atividades presenciais em 15 de março de 2020, expressou que sua “preocupação expressa é a de assegurar a preservação dos mais de 41 mil matriculados nos cursos de graduação, pós-graduação e no ensino infantil e educação básica, além dos que dependem da alimentação no Restaurante Universitário, utilizam a Biblioteca Universitária, além da grande comunidade de servidores docentes e técnicos administrativos em Educação.”

Quatro meses depois, em julho, sem perspectiva de mudança do cenário da crise sanitária, o Conselho Universitário (CUn) deliberou que as aulas seriam retomadas pelo modelo de ensino remoto emergencial, caracterizado, por exemplo, pela transmissão de aulas síncronas e pelo envio de conteúdos e tarefas via plataformas específicas para ensino. O mesmo vale para diversos projetos de pesquisa e de extensão, agora envolvendo reuniões virtuais, produção de conteúdos e obedecendo o protocolo de biossegurança, quando for preciso realizar atividade presencial.

Segundo o chefe de gabinete da Reitoria da UFSC, Áureo Mafra de Moraes, a situação decorrente da pandemia tem sido analisada com atenção desde o princípio. “A UFSC criou três comissões permanentes — epidemiológica, acadêmica e assistência psicológica –, que monitoram o avanço da pandemia e estudam as possibilidades de retorno das atividades presenciais. No momento, as atividades presenciais estão suspensas até fim de maio. O retorno deverá ser gradual, com prioridade às atividades práticas (laboratórios).”

Ainda de acordo com Áureo, as aulas na instituição terão condições de retorno somente quando pessoas consideradas mais suscetíveis a desenvolverem problemas graves em decorrência da Covid-19 estiverem vacinadas. Frente às incertezas sobre o andamento do calendário de vacinação em nível nacional, é impossível pensar nas atividades universitárias sem também refletir sobre o futuro das estruturas do campus, que ocupa vasta área do bairro Trindade. Questionado sobre a prestação de serviços referentes ao campus na pandemia, o chefe de gabinete traz um panorama sobre os procedimentos utilizados. “Alguns contratos foram diminuídos, por exemplo a vigilância e restaurante universitário, e outros mantidos, particularmente aqueles que se relacionam com a manutenção das instalações, utilizando-se de trabalho em turnos e em dias diferentes evitando aglomerações.”

Novo cenário

Como alguns projetos do curso de Engenharia de Produção Mecânica requerem a continuidade do uso de laboratórios e ferramentas, o estudante Paulo tem frequentado o campus, no coração da capital catarinense, e pôde perceber mudanças de agora em relação à cena rotineira da universidade no período pré-pandemia. “A segurança continua, porém, não vejo tantos funcionários da limpeza para coletar o lixo ou varrer áreas comuns da UFSC.”

Vista aérea do campus Trindade. Imagem: Acervo/Agecom

“Não me recordo qual a última vez que vi cortarem a grama e cuidarem dos prédios.” A afirmação é do acadêmico de Medicina na UFSC, Rodrigo Goulart Melo, 24. Mesmo com tarefas do curso realizadas remotamente, os vínculos de Rodrigo com a universidade o permitem estar perto do ambiente outrora marcado pelos passos de milhares de pessoas, indo e vindo, para dentro e fora do campus. “Como moro bastante perto, acabo passando de duas a três vezes por semana na UFSC”, relata. O cenário observado por quem adentra o campus, localizado no bairro Trindade, agora mostra o contraste entre a imponência de prédios construídos há décadas e a grama alta dos jardins, que não passa despercebida.

Rodrigo confia no retorno das aulas presenciais ainda em 2021, pois acredita que a importância do uso dos espaços antes e depois da pandemia vai muito além das salas de aula. “A gente tem uma estrutura enorme de ginástica, futebol, tênis, natação na UFSC, que está totalmente parada.”

Sob a ótica da legalidade

O retorno das atividades presenciais nos campi da UFSC e a manutenção das estruturas no campus de Florianópolis são pautas que podem ser vistas sob a ótica jurídica dos fatos, tendo em vista a durabilidade incerta do distanciamento social imposto pelo vírus. Egresso do curso de Direito na universidade, o advogado e mestrando em Direito do Estado da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Murillo Preve, 24, reitera a importância de resoluções normativas na definição de quando a normalidade voltará aos campi. “O que a gente tem desde então e pode adiantar é que este retorno, tanto numa questão de saúde quanto legal, vai precisar ser baseado em normas bastante claras e específicas, para que seja um retorno seguro.” Recentemente o reitor da UFSC, professor. Ubaldo Cesar Balthazar fez um pronunciamento afirmando que “nossa maior aliada, desde o início, foi a Ciência”.

Para uma futura retomada, mesmo que no período pós-vacina, o distanciamento social e o uso de máscara deverão ser mantidos. Sobre as recomendações referentes à circulação nos laboratórios e vias do campus da capital durante a pandemia, a reitoria afirma que “a UFSC segue as recomendações das autoridades — estado, município e vigilância sanitária.”

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Written by Zero

Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UFSC

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