Zero em Pandemia: destino Camboja

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5 min readDec 20, 2021

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A Covid-19 criou novos hábitos, substituiu antigos e mudou perspectivas. Desde 11 de março, quando foi decretada a pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o vírus mudou a sociabilidade. Prioridades foram alteradas e o estilo de vida foi afetado bruscamente. Nesse cenário de dúvida e reflexão, Virgínia da Silva Witte, estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), resolveu correr atrás de um desejo que a acompanhava há alguns anos: ser missionária. O país de destino escolhido foi o Camboja, no sudeste asiático. O seu ponto final foi a província de Mondulkiri, com população menor do que 45 mil habitantes. A capital Senmonoron, onde ela leciona aulas de música e inglês para crianças, tem aproximadamente seis mil pessoas.

Foto: arquivo pessoal — Virgínia ao centro, sendo recepcionada.

Virgínia está no Camboja desde o final de agosto de 2021. Além do desafio de enfrentar 10 horas de diferença de fuso horário da sua família, que vive em Curitiba (PR), a viagem transcorreu em meio aos crescentes casos de Covid-19 em todo o mundo. Apesar de a vacinação naquele momento já ter sido iniciada no Brasil, o processo estava enfrentando problemas no fornecimento das doses e muito longe da faixa etária da estudante, que tem 23 anos. A insegurança de atravessar o mundo sem o imunizante preocupava a família. Poucos dias antes dela embarcar via aeroporto de sua cidade natal, o Paraná liberou a vacinação para pessoas que fossem sair do país a trabalho ou estudos. “Eu ia viajar no domingo, e na quinta-feira consegui tomar a vacina. Eles deram a vacina de dose única. Tive a vantagem de vir vacinada”, conta a estudante e missionária.

O processo de deslocamento internacional durante a pandemia exige cuidados e medidas extras. O primeiro voo saiu do Brasil para uma escala em Frankfurt, na Alemanha, com meia hora de atraso. Virgínia explica que quando chegou ao aeroporto de Frankfurt, tinha de apresentar alguns documentos que deveriam ter sido vistos no embarque no Brasil, mas só foram pedidos na Alemanha. “Além do atraso, nosso teste para Covid-19 não foi assinado pelo laboratório no Brasil. Estava tudo certo, a data em dia, mas o médico não assinou nosso teste. Isso, somado ao nosso atraso, fez com que a gente perdesse o voo para Singapura, na Ásia”, lembra.

Foto: arquivo pessoal — Chegando em Singapura.

Durante esse curto período na Alemanha, ela sentiu o choque de como o país estava tratando a pandemia — muito diferente do Brasil. A companhia aérea disponibilizou hospedagem fora do aeroporto para Virgínia e sua amiga Tamiris Rasquini, que seguia o mesmo destino. “Eu já estava vacinada e a minha amiga não. Então, mesmo a gente tendo testes negativos, eles não deixaram a gente passar. Falaram que eu poderia ir porque estava vacinada, mas ela não.” As áreas de circulação estavam isoladas e os trabalhadores usavam todos os Equipamentos de proteção individual (EPIs). “No Brasil eu via muita gente falar que era exagero, mas, para mim, isso mostra que a Alemanha está levando a pandemia com a gravidade que ela deve ser encarada.”

Apesar de não poder seguir para um hotel externo, elas conseguiram ficar em quartos dentro do próprio aeroporto. Partiram para Singapura, no sul da Malásia, para a próxima conexão. “O meu sonho era conhecer o aeroporto de Singapura e nossa escala de 8 horas, dava tempo para conhecer tudo. Mas, por conta da Covid-19, a área de quem está fazendo escala é delimitada, então, não podíamos circular”, lamenta Virgínia.

Foto: arquivo pessoal — espaço delimitado no aeroporto de Singapura, com marcações no chão para espaçamento mínimo obrigatório e funcionários com EPIs (Equipamentos de Proteção Individual).

Ao chegar ao Camboja, Virgínia passou pela imigração, apresentou os documentos necessários e foi direcionada para uma quarentena de 15 dias no hotel, mesmo com testes negativos. Esse período custou US$2 mil e incluía todas as despesas, desde alimentação, hospedagem, até assistência médica — caso fosse necessário.

Pandemia no Camboja

O Camboja é muito conhecido por suas paisagens e sua biodiversidade, além dos templos religiosos. O país segue o regime monárquico, dividido em províncias. Sua área territorial é de 181.035 km², menor que a do estado do Paraná, com população total estimada, em 2020, de 16 milhões de pessoas — menos que o estado do Rio de Janeiro. Com a pandemia, o turismo, base da economia, foi diretamente afetado, deixando graves situações em diversas localidades, que começaram a liberar a visitação apenas no final de 2021.

Foto: arquivo pessoal — Visão do Camboja, província de Mondulkiri

Até o momento, o país já perdeu 2.989 vidas em decorrência do novo coronavírus. A vacinação vem priorizando grupos com maior risco e exposição. Os professores foram um deles, o que garantiu o imunizante para Tamires, amiga de Virgínia, assim que ela chegou. A missionária conta que, por ser um país pequeno, a compra da vacina é mais lenta, por falta de dinheiro. Isso implica diretamente no avanço do processo de imunização, mas que o povo não é avesso à ideia.

No dia a dia, as normas de segurança indicadas pela OMS são seguidas. Virgínia comenta que “as crianças usam máscara o tempo todo”, durante o período de aulas. “Esses dias eu estava dando aula e falando e a máscara estava frouxa e descendo. Uma criança muito pequena, acho que da pré-escola, chamou a minha atenção para tomar conta da minha máscara. Para que ela saiba fazer isso, tenha conhecimento de como usar a máscara do jeito certo, é porque ela tem referências e alguém que mostre e chame a atenção, para ela diretamente, ou entre si, na família”, ressalta.

Reportagem por Ana Luíza Pedroso, com orientação dos professores Valentina Nunes e Ildo Golfetto.

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Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UFSC

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